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Ideologia de gênero

Vem se popularizando, especialmente nas mídias, o termo "ideologia de gênero", como modo de se referir às discussões sobre gênero e sexualidade (identidade de gênero, orientação sexual, feminismo, igualdade de gênero, etc.). Esse termo surgiu a partir de um debate que envolve a educação escolar e a possibilidade de que ela aborde tais questões.

Em linhas muito gerais, é preciso dizer que o campo de estudos e pesquisas das relações de gênero e sexualidades NÃO RECONHECE e tampouco utiliza esse termo. Pelo contrário, nos colocamos desfavoráveis à utilização desse termo, tendo em vista que ele não é representativo da discussão que o campo vem produzindo. A/o cartunista Laerte resume a racionalidade que orienta esse termo:

Assim, o termo "ideologia de gênero" foi cunhado por setores, grupos e agentes religiosos (ou com vinculação claramente religiosa) para designar tudo o que é contrário a determinada visão de mundo - religiosa, conservadora e, guardadas as devidas proporções, fundamentalista. Nesse sentido, o avanço do debate sobre relações de gênero e sexualidade, advindo dos movimentos sociais, das pesquisas, atividades de extensão e de ensino promovidas nas universidades e escolas, é visto como nocivo a essa visão, já que propõem transformações em aspectos que são considerados "naturais", tomados como verdades universais, sem uma vinculação histórica, social, cultural.

Esse debate foi se acirrando e se tornando mais popular com a discussão sobre o Plano Nacional de Educação. Naquela época, entre os anos de 2013 e 2014, a Câmara dos Deputados decidiu, arbitrariamente, retirar do plano qualquer menção à discussão de gênero e sexualidade. Isso teve ressonâncias nos debates sobre os planos estaduais e municipais de educação. Mais do que isso, o termo se transformou em uma forma de gerar pânico moral em torno do debate sobre gênero e sexualidade, alimentando violências e discursos de ódio contra pessoas que são lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens transexuais, pessoas transgêneras, pessoas intersexuais (LGBTTI) e também contra mulheres cisgêneras. 

A narrativa sobre "ideologia de gênero" surge no interior da igreja católica, especialmente nos movimentos de renovação carismática e movimentos que se intitulam "pró-vida" e "pró-família". O objetivo principal dessa narrativa é interromper e fazer retroceder mudanças sociais e políticas decorrentes das lutas e debates originados e/ou alavancados pelos movimentos sociais e pelo campo acadêmico (na universidade) de estudos das relações de gênero e sexualidades. 

A intensa campanha contra o que as igrejas, grupos e sujeitos chamam de "ideologia de gênero" se espalharam pelas mídias, especialmente pelos canais e programas religiosos, pela Internet, passaram a circular nas redes sociais (Facebook, Whatsapp, etc.), apresentando informações deturpadas e, em muitos casos, equivocadas sobre as questões de gênero e sexualidade. Isso fez aprofundar a aversão, o ódio e a violência contra pessoas LGBTTI. 

Alguns "mitos" propagados por essas instâncias:

1 - A ideia de que as crianças não devem ter definição sexual e terão que escolher, quando adultas, sua idetidade sexual e de gênero;

2 - A negação da composição biológica do corpo, do gênero e da sexualidade, e, portanto, a anulação das diferenças entre homens e mulheres;

3 - A erotização precoce de crianças e a apologia à pedofilia;

4- A destruição completa da família dita "natural" e do casamento.

A propagação desses "mitos" mostra a ignorância em relação ao tema, a falta de discussão e o uso deliberado dessa ignorância para instaurar pânico, acirrando disputas e promovendo o ódio. 

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